19 novembro 2008

Post repetido, mas vale a pena: Banho de cultura

Ola pessoal!

Sexta feira vi meu amigo Kleber Gouveas na tv, ensinando a fazer chocolate em pó. Achei conveniente repostar esse humilde post de 1900 e bolinha, em homenagem a ele - pessoa pela qual tenho imensa admiração e respeito.

Ai vai!

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Eu costumo dizer a celebre frase "Quando vou aos homens, volto menos homem", face as estupidez (es? qual é o plural correto de estupidez?) que eu vejo por ai. Pois bem:

Me aparece Leo Caetano aqui, com o Augusto "Magrisan" debaixo do braço. Ha algum tempo atras, eu fiz uma modificação num sampler Akai S2000 do Leo, e ele queria que eu fizesse o mesmo pro Augusto. Ok, abri o sampler dele, dei uma olhada, me bateu um insight e veio a IDEIA. Uma modificação mais eficiente, para colocar 3 HDs SCSI dentro do sampler (onde nao cabia NENHUM). Legal, trabalho dificil, levou o dia inteiro, o Leo ainda quis que fizesse da mesma forma no sampler dele, e tudo bem. Dindin merecido, mais de 12 horas de trabalho.

No dia seguinte, o Augusto sisma que eu tenho que ir conhecer o pessoal dele, churrasquinho, etc. Encheu tanto o saco, que eu falei "tá, vamos". E la fui eu pra barra do jucu.

Po...

Cheguei numa casa enorme, onde tinha uma roda de samba. É de comum conhecimento dos meus amigos que eu nao suporto samba, pagode, axé, sertanejo, essas coisas. Nao me chamem de "americanista", mas eu curto qualidade musical. E francamente, isso que tem por ai que chamam de pagode, axé e sertanejo, nao me mostra qualidade musical. Nao me considero musico, mas toco teclado - por pior que seja. E aprecio musica de qualidade. Normalmente musica classica, ou rock progressivo. Mas nessa casa, eu encontrei pessoas tocando de uma forma que ha muito nao via.

Uma roda com um senhor, bem velhinho, tocando um banjo de 4 cordas com uma sonoridade fantastica, uma outra pessoa com um violao, e outros com chocalhos e instrumentos que nao me vem o nome a cabeça. Mas tocando chorinho, sambas e bossa-nova, com uma sonoridade ABSURDAMENTE agradavel aos meus criticos ouvidos. Eu estava meio sem-graça de ficar ali, Mas apreciei cada segundo daquela visita, e desejei que eu tivesse um gravador de DAT portatil, pra andar com ele no bolso e guardar aqueles momentos unicos, que espero um dia ver repetir. Uma experiencia unica, inusitada, inedita.

Depois vim a saber que o tal velhinho do banjo era alguem que ja puxava carnaval ha mais de 30 anos na barra do jucu. E que agora, que a maioria dos seus amigos ja passaram, ele costuma tocar com esse pessoal e todos gostam muito, tanto dele quanto da musica.

Pois bem, me chega o Augusto e fala "vamos la em casa, tenho que pegar um cubo"

Me despedi meio sem graça do povo, afinal como poderia eu interromper musica tao gostosa, meramente pra dizer "tchau, foi um prazer"?

Chegando na casa do Augusto - logo ao lado - vi a entrada do Atelier de seu pai - Kleber Gouveas (desculpem, ainda nao tem link, é realmente uma pena) e fui convidado a conhecer as obras de seu pai, artista plastico conhecido e comentado no estado (e que é obvio, completamente alheio ao meu conhecimento, afinal até aquele momento, arte e Espirito Santo pra mim eram antonimos)

Nao apenas conheci a obra de seu pai, como tambem conheci o proprio - pessoa de tamanha humildade, cultura e vivacidade - e até alguns desenhos e obras do famoso artista plastico Homero Massena, o qual o Kleber (nao, ele nao gostou de eu chama-lo de Sr.) teve a honra de conhecer e ser amigo.

Nao fumei maconha. Mas fui transportado a outro mundo.

Cada quadro que eu via, eu me espantava com a riqueza de detalhes, com o expressionismo, com a beleza, com a carga emocional, a "energia", um choque cultural e sentimental de milhares de culturo-volts que eu recebia a cada segundo.

Em um momento, deparei-me com uma tela de mais ou menos uns 2 metros de altura por 3 de largura (!), com uma paisagem.

Senhoras e senhores, minha vida nao seria mais a mesma depois dessa visita.

Eu observava o quadro, em um perfil "digital", em uma matriz de linhas e colunas de pontos, e observava os detalhes da trama da tela por baixo da tinta.

De repente, o (seu) Kleber chega ao meu lado e diz "Alexandre, faz uma "luneta" com a mao, que isole o quadro da parede, e observe os detalhes. Voce vai ver de uma forma "diferente"

Repentinamente, eu fui transportado a outro mundo - ao ambiente da tela.

Eu podia ver cada detalhe da casinha no alto do morro. Eu podia ver as plantas, as janelas, as ondas do mar, os frutos das arvores, coisas que eu jamais imaginei poder ser enxergadas em uma tela de "tao pouca resolucao"

A partir daquele momento, minha mente saiu do modo "digital", mapeado em linhas, colunas e pixels, para um modo "analogico", com nuances, tons e pinceladas

Quanto mais eu me aproximava do quadro, mais eu percebia as tonalidades, a influencia entre cada cor ao se misturar. A influencia de uma pincelada de tinta por cima da outra. A mistura harmoniosa de dois oxidos, gerando um terceiro. A textura da tinta contra a trama da tela. Um mundo o qual eu nunca havia me dado a oportunidade de visitar.

Confesso - fiquei meio zonzo.

Face ao meu espanto, e ao meu prazer de observar os detalhes daquela obra prima (infelizmente muito fora do alcance do meu humilde bolso), eu fui convidado a "sala didatica"

A tal sala didatica, tem tres quadros. Repito aqui a explicação do Kleber, em minhas proprias palavras, embora posso jurar que gravei - eternamente - aqueles minutos de conversa.

"aqui trago as pessoas como voce, que nao tem experiencia com a arte, para demonstrar como um artista plastico se apresenta a uma tela branca.

- Nesta tela, voce faz um "buraco na parede" (uma paisagem belissima, bucolica, natural). O quadro é uma representacao artistica - porem fiel - de uma paisagem, uma vista, como se fosse uma fotografia. Uma janela na parede, te permitindo ver uma paisagem.

- Nesta tela, voce conta uma historia - "Davi e Golias no país dos ursos" (uma tela com varios ursos em varias posicoes, combinações, contorções, servindo de fundo para a batalha de Davi e Golias). É impressionismo, é uma historia contada, pendurada na parede

- Nesta tela, voce expressa seu sentimento - a mistura de cores e formas (uma tela com uns desenhos assim, meio doidos, mas com uma aparencia muito agradavel) gera um medalhao, uma condecoração, com a qual voce - honrosamente - "condecora" a parede. O quadro nao significa nada, alem do sentimento do artista e a tentativa de exprimir uma beleza talvez compreensivel apenas pro artista, ou para aqueles sensiveis o suficiente para enxergar o que há por tras dessas formas geometricas, assim como voce percebe o sentimento de um fraseado de uma musica."

Senhores, o que tenho a dizer, é a mais pura verdade.

A unica coisa que pude dizer nesse momento de "banho cultural", onde eu me senti o mais rico de todos os homens foi o contrario da frase que sempre digo. Mas repito aqui cada palavra que disse.

"Senhor Kleber, é de meu costume dizer - face a irracionalidade das pessoas - que "quanto mais vou aos homens, volto menos homem", nao pelo homossexualismo da expressao, mas porque me sinto cada vez mais envergonhado da falta de equilibrio, razao e logica do ser humano. Mas nesse momento eu vou expressar algo que - embora sempre desejei - nunca encontrei uma forma ou uma oportunidade para expressar:

Pela primeira vez vim aos homens, e voltei muito mais homem

Sinto-me honrado e agradecido pelas suas explicações. O Sr. abriu um novo mundo pra mim. Estou ao mesmo tempo orgulhoso de ter aceitado essa visita, agradecido pela vossa atenção, feliz por enxergar um novo mundo a minha frente, e profundamente triste por ver que vivo dentro de uma redoma de vidro, a qual acabou de ser quebrada. Devo-lhe tudo isso, e ser-lhe-ei eternamente grato."

Depois disso ele me mostrou outras obras dele e, nao vou dizer que tornamo-nos amigos, mas é mais uma pessoa pela qual tenho profundo respeito e admiração, e tenho a honra de nao apenas ser bem recebido em sua casa todas as vezes que la vou, como tambem de ter toda a sua atenção e sempre um bom papo, culturalmente rico, e profundamente interessante. A ultima vez ele me mostrou o lago que tem dentro de sua propriedade, e da preocupação em aerar o lago, etc. Falamos sobre musica, sobre arte, e sempre que vou lá, volto culturalmente mais rico.

Ja passou da hora de sair dessa maldita redoma de vidro...

Se ele me permitir, depois posto fotos dos quadros. Ja passou da hora de ele ter o seu proprio site.

PS: O Augusto é tecladista do Casaca. Ja ouviram Casaca? Nao? Cacem o primeiro disco por ai, ja que a Sony Music que é "proprietaria" dos fonogramas nao quer vender o disco que todo mundo aqui do ES e de muitos estados do Brasil procuram, e ouçam com atenção. Quando eu trabalhava na Rick Game, e o Daniel (saudades de tu, mano! Boa sorte ai no novo emprego e felicidade pra voce e sua esposa! Tomara que voce consiga logo comprar o Corsa Sedan!!!) colocou esse disco - entre os muitos de reggae e outras chatices que ele ouvia - eu IMEDIATAMENTE gostei. Achei uma musica "visceral" - nao apenas com qualidade musical, mas com um toque sentimental muito forte. Sabe aquela coisa que vem de "dentro" de voce? O nome do ritimo é "Congo", é algo daqui do ES, e culturalmente muito rico tambem. Alias, acho que eu maldigo o ES porque so conheço a playboyzada da praia do canto e da praia da costa. Aceito recomendações e convites para conhecer a cultura do estado, que começo a perceber, é tao rico em cultura, e eu conheço tao pouco, me sinto tao isolado...

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