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Eu me lembro a primeira vez que meu micro quebrou...Eu fui abrir meu TK 90X para colocar um botao de reset (ligar e desligar a fonte, que ficava escondidinha debaixo da bancada era um saquinho!) e um led pra mostrar que o micro tava ligado. Dei um curto em alguma coisa e o micro pifou. 1 semana na CBI, lá no rio de janeiro, e uma merreca (grande) que saiu dos bolsos do meu pai. eu tinha uns 12 anos nessa epoca. E nunca tinha usado um integrado TTL na vida.
Depois veio o MSX. Aí eu ja sabia algo de eletronica. Eu abria e fechava, adaptava, modificava, separava canais de som, tirava RGB, transcodificava, um monte de coisinhas interessantes. Começava a nascer daí um tecnico, mais um tecnico. Daqueles que aprende “empiricamente” e que sai fazendo besteira por ai. Tsc...tsc...tsc...
Eu começei, realmente, na manutenção de micros lá pros meus 14 anos. Eu conheci o Marcelo Sia, lá de Irajá, que era um excelente tecnico, e que foi o meu “mentor” principal nesse caminho que é a manutenção de micros. E eu era um duro. Duro mesmo. Nao tinha dinheiro pra comprar bala. Mas o Marcelo, sempre um bom Amigo, deixava eu usar as ferramentas dele e me ensinava o basico que eu precisava aprender. Naquela epoca, dominada pelos micros Apple, TRS-80 (os CPs da vida) e Sinclair, consertar micros era mais ou menos assim: Ou voce conhecia, ou voce comprava um micro e provocava toda especie de defeitos possiveis e imaginaveis, para saber qual integrado pifa, quando acontece tal sintoma. E era algo complicado. Um apple II tinha 104 integrados.
Existia uma placa chamada IC-TEST. Essa placa testava a maioria dos integrados CMOS, HCMOS e TTL. Quando eu consegui comprar uma placa dessas, eu comecei a “realmente” consertar micros. Sabem como? Tirava integrado por integrado (as maquinas eram todas soquetadas!) e ia testando, um por um. Ainda me lembro dos dois primeiros computadores que peguei pra consertar, “profissionalmente”, um CP-500 e um Apple II da Dismac (o temeroso D-8000), tudo soldado, olha a trabalheira :o)
Aos poucos fui ganhando dinheiro. E todo dinheiro que eu ganhava, ou eu comprava ferramentas, ou eu comprava livros. E ia estudando. E ia aprendendo. Naquela epoca nao tinha internet (tá, tinha, mas nao como hoje em dia). Cada vez eu aprendia mais, e cada vez eu resolvia os problemas mais rapido. Começei a criar fama, e comecei a Ter mais clientes. E trabalhar 16 horas por dia. E ganhar muito dinheiro.
“Mas Alexandre, porque voce está contando os seus podres do passado???” – Para mostrar a voces qual é a situação do mercado de informatica hoje. O que mais tem é curioso se dizendo “Tecnico”. Eu ja fui um deles. E tive que lutar muito para sair dessa “massa critica”. Infelizmente, desde o inicio, nao haviam cursos de manutencao de micros. Os poucos que haviam, eram completamente inacessiveis ao iniciante ($$$). Ninguem sabia o que estava fazendo. Na epoca do XT e do 286, montou 2 maquinas, é tecnico. Ninguem se preucupava com especialização, queria era arrumar alguma coisa que desse dinheiro, em um mercado de trabalho estagnado. E assim foi se formando o quadro atual – Tecnicos despreparados, desatualizados e desanimados.
Quais sao os problemas dos tecnicos em manutenção de micros (ou como o Marcelo Gregatti diz, “Analistas de Suporte”) no mercado atual??? Vamos abrir alguns pontos para discussao aqui:
1 – NAO FALAM INGLES. Agora imaginem: Tudo no computador está em ingles (manuais, bons softwares, legendas das placas, etc...). Os perifericos que voce compra, os manuais estao em ingles. Sites em portugues, só de algum tempo pra ca que temos o do Gabriel Torres (www.clubedohardware.com.br) e livros sobre o assunto, que nao tenham escrito besteiras, só os do mesmo Gabriel. Internet, só em ingles mesmo, Qualquer site de fabricante de placas, etc, é em ingles. E dificilmente tem alguma coisa em portugues. Como o tecnico pode se atualizar sem saber falar ingles? Simples: Se atualiza na base do “tirei de tras da orelha”. O conhecimento até chega até ele, mas com um certo atraso em relação aos outros que dominam a lingua inglesa. Resumindo: Sem ingles, nao dá.
2 – NAO ENTENDEM DE ELETRONICA. Um tecnico que vai consertar um circuito eletronico, tem que compreender o circuito para poder conserta-lo. Senao vira trocador de placas. E isso até um simio sabe fazer. Voce tem em um computador a Placa Mae, Placa de Video, Placa IDE, HD, Drive, Memorias, Fonte e Floppy. Se voce anda com um conjunto desses na mala voce resolve 90% dos problemas de qualquer computador. Isso é ser tecnico? Ou ser tecnico é aquele que ao ouvir o sintoma ja conhece as causas provaveis e sabe qual componente de tal placa que o causa? Nao basta trocar placa, tem que saber consertar. Isso nos leva ao ponto...
3 – NAO ENTENDEM DE COMPUTADOR. Imagine o seguinte problema: Um usuario reclama que nao consegue copiar e colar um arquivo do excel no word. Um tecnico chegou a condenar a placa mae. Se ele soubesse que a area de transferencia fica **invariavelmente** na memoria virtual, e que a memoria virtual pode Ter um tamanho fixo (que inclusive fica mais rapido, se voce souber configurar), ele saberia de cara o que fazer. E quando liga o computador, dá 3 beeps longos, voce sabe o que é isso? Voce sabe a sequencia de inicialização da BIOS de qualquer computador? Se voce nao conhece o funcionamento do computador, como pode lograr conserta-lo? O maximo que vai ser é “Tenico”, e isso, é tudo que o mercado nao quer.
4 – NAO SABEM COBRAR. Tem “tecnico” que cobra 10 reais a visita. Tira aí R$2.50 do buzao, mais R$1 da coca cola (que é de lei) e sobra R$ 6.50. Virou mendigo. Por outro lado, tem aquele caso do cara que foi consertar o telao, cobrou 450 reais, e a empresa que tercerizou o serviço a ele, cobrou do cliente 6500 reais :o) O que cobra muito, nao tem clientes. O que cobra pouco, nao tem dinheiro para se aprimorar. Nao se valoriza. Nao merece estar entre nós. Tecnico que é tecnico sabe o quanto cobrar. Essa alias, é a parte mais dificil do trabalho. A experiencia vai lhe mostrar o quanto cobrar, e o que fazer. E voce que é “curioso”, nao adianta cobrar caro pra mostrar que é “bom”, so vai entrar pelo cano. Aprenda para poder prestar um bom serviço. Boa vontade apenas nao conserta computador. Nao tenha vergonha de pedir ajuda. Ninguem nasce sabendo, mas para prestar um serviço, subentende-se que voce conheça do assunto.
5 – NAO SABEM SE COMPORTAR NA FRENTE DO CLIENTE. Ja vi tecnicos completamente mal-vestidos e com barba por fazer, cabelo grande e sujo, unhas por cortar, um verdadeiro mendigo, se apresentar como “tecnico”. E ainda fica cantando a secretaria do cliente. Pensem só: Voce contrataria uma pessoa dessas? Custa muito aparecer de cabelo cortado, barba feita, dentes escovados, roupa DECENTE (nada de camisas “mamae to forte” e bermudoes de marca, esqueça o tenis!) e tatuagens escondidas? Pense da seguinte forma: Tire uma foto de voce indo para um cliente. Mostre a 5 pessoas. Se duas nao aprovarem, tem algo de errado. E normalmente tem. E tem mulher no mundo sobrando, para voce Ter que cantar justamente a secretaria do cliente.
6 – NAO SABEM FALAR, MUITO MENOS ESCREVER – “O dotô, a gente nao sabemos exatamente o que que ta pegando aqui no seu zepeuh, mas a gente vamos levar pra ofissina, pra ver qualé” – Acredite, é mais facil de ouvir isso de um “tecnico” do que ouvir o classico “Infelizmente o problema é deveras complicado para ser resolvido ‘on site’, portanto necessito retirar o equipamento para nosso laboratorio, para uma analise mais profunda, com equipamentos de teste que me permitam Ter base para um diagnostico completo”. Se voce nao consegue cantar a gatinha com esse papo marginal, acha que seu cliente vai se agradar com ele??? Um curço de purtugues ajuda bastante de vez em quando...
7 – NAO TEM O FERRAMENTAL NECESSARIO. Um “kit do mexanico de computador”, aquele da leadership na pastinha preta, custa merreca. Vale a pena Ter um daqueles. Tanto o pequeno quanto o grande, embora eu prefira o grande. As ferramentas sao de otima qualidade, duram a vida toda (eu tenho um aqui que tem 10 anos). Compre o kit grande, vai servir pra voce por muitos e muitos anos. E cliente gosta de um tecnico com o material bonito e bem organizado. Chave certa no parafuso certo. Lembre-se disso. Multiteste analogico pra testar computador é um nao-nao. Alem de feio e fragil, inspira desconfiança. Use um digital, que nao custa tao caro assim. Saiba Ter um bom ferramental, que voce possa confiar nele. Mas isso é motivo para outro artigo.
8 – NAO SE ATUALIZAM. Na epoca da transição da valvula pro transistor, muitos tecnicos diziam “eu nao preciso me atualizar, ainda vai Ter muito tv de valvula por ai para eu consertar”. Morreram de fome, ou morreram bem pobres. Os equipamentos transistorizados apareceram e tomaram as valvulas de sopetao. Fica o recado para os tecnicos: 386 é bem diferente de Pentium III.
9 – NAO EXISTE UNIAO (e nao é aquela que faz açucar). Ta todo mundo no mesmo barco. Tecnico vai ser sempre um cara marginalizado enquanto nao aprender a se portar. E cliente tem para **todo mundo**, ja dizia o saudoso Marcelo Sia. Se os tecnicos nao aprenderem que a uniao faz a força (e açucar tambem, mas isso é outra estoria que nao tem nada a ver com isso aqui), dificilmente vao conseguir alguma coisa que os beneficie a nivel estadual ou federal. Uma associação de classe, que fizesse algo pelos mesmos seria otimo, ou pelo menos que cada um soubesse que “uma mao lava a outra, ambas lavam a face”. Ajude o seu amigo que é tecnico, um dia voce pode precisar de ajuda. Cooperação leva ao crescimento, nao existe concorrencia no mercado. Existem os tecnicos que agradam aos seus clientes, e os que nao agradam. Seja um do primeiro tipo, mas saiba ajudar o amigo tecnico a agradar tambem
Vamos construir um mercado melhor para todos!
Bem gente, por enquanto é só. Fiquem com Deus, e depois tem mais
Alexandre Souza